Yue Jaded: O Imperador Imortal (Parte 5)


- Prender nas masmorras? – perguntou o garoto. – Por que isso?
- Quem sabe? – replicou o velho.
- Deixa eu ver se entendi direito. O homem matou um dragão e arrancou do peito o próprio coração, matou diversos inimigos, guerreou e escravizou inúmeras pessoas pra chegar num julgamento qualquer e mandar pras masmorras uma mulher qualquer que disse algumas besteiras? Sério? Por que não arrancar a cabeça dela ali mesmo?
- Seria fácil demais, não acha?
- É claro que seria fácil! A ideia é essa!
- E por que ele iria querer a facilidade? O homem estava entediado. - declarou o velho com seu jeito risonho. - Há muito tempo que ninguém ousava desafiá-lo. E então apareceu aquela garota... Uma simples garota. Matá-la não significava que ele tinha vencido. Para isso ele teria que fazê-la se submeter. Teria que lutar nos termos dela...
- Afff... Se você diz. – replicou o garoto fazendo pouco caso. - De onde eu venho isso tem um nome. Chama-se bichisse... – e se calou novamente.

A garota foi mantida em uma cela no calabouço. Estava proibida de comer e tudo o que recebia era apenas água. Ninguém tinha autorização para falar com ela e depois de alguns dias já não aguentava mais ficar de pé e começou a adoecer.
Sabendo disso o imperador ordenou que a trouxessem até sua presença e mais uma vez lhe ofereceu sua misericórdia.
E mais uma vez ela rejeitou.
Novamente foi enviada para o calabouço por outros tantos dias. Ela estava quase morta quando foi removida dali para um quarto onde foi cuidada e tratada.
Ainda era uma prisioneira, mas quando melhorou tinha conforto.

- O que? - perguntou o garoto. Estava indignado. - Pra que isso?
- Você não entende, não é? - o velho riu. - O imperador poderia matá-la quando quisesse, mas por hora ele queria apenas ganhar o jogo.
- Jogo? - o garoto fechou a cara, embainhou sua espada que já estava pra lá de afiada e se colocou de pé. - Boa noite, vou dormir. Que merda de história, velho.
- Aaah, cale a boca. Coma e continue ouvindo.

E sem esperar pra ver o que o garoto iria fazer, simplesmente continuou a falar.

O imperador passou a visitar a garota com certa freqüência. Tentou ameaçá-la. Tentou chantageá-la. Tentou descobrir mais a seu respeito.
Mas não importava o que fizesse, não conseguia dobrá-la.
Ele ainda chegou a mandá-la de volta para a masmorra, mas não importava. O imperador simplesmente não podia fazê-la se curvar.
Mais três ou quatro vezes ela beirou a morte e se salvou por pouco de todas elas.
Muitas vezes eles discutiram e a paciência do imperador foi testada, assim como a força de vontade da garota...
E mesmo frustrado, ele admirava essa força.

- Tá! Eu já entendi. – disse o garoto se sentando novamente. – Ele se apaixonou.
- Como sabe? – perguntou o velho com um sorriso irônico no rosto.
- Envolvimento demais. Talvez ele tenha se apaixonado logo no julgamento, seria uma boa explicação para não tê-la matado de uma vez.
- Você e suas analises idiotas. Sim, ele se apaixonou. Mas não faz diferença quando. – o velho confirmou, ainda com o sorriso nos lábios. - “Envolvimento demais” você diz. Mas não acha irônico para um homem de coração arrancado, se apaixonar?

E ele não foi o único.
A garota não tinha medo de dizer na cara do imperador tudo o que pensava. E isso incluía as coisas que ela achava errado na maneira como ele administrava seus domínios.
O imperador sempre foi mais soldado do que legislador. Não entendia, até então, das necessidades do povo e definitivamente não levava isso em consideração quando elaborava suas leis.
Quanto mais discutia com a garota, mesmo irritado e contrariado, ele acabava entendendo coisas que nunca antes haviam lhe passado pela cabeça.
E foi assim que a garota se tornou um perigo ainda maior para o império.
Até então ela não era mais do que uma mera prisioneira que distraía o imperador enquanto burocratas corruptos faziam suas próprias regras. Para estes homens, barões, senhores, xerifes, ela era útil por manter o imperador distraído enquanto eles tomavam o que queriam.
Mas logo o imperador foi percebendo que por mais que ocupasse o trono eram outros homens quem tiravam proveito. Homens que riam dele pelas costas. Covardes que ao contrário da garota não tinham coragem suficiente de enfrentá-lo
Homens que o imperador foi eliminando um a um.
E assim aos poucos o imperador foi mudando e o cerco foi se fechando para os homens mais influentes do império que, na tentativa de sobreviver, elaboraram um plano para eliminar de vez aquela prisioneira que há muito tempo devia ter morrido.
Essa foi a ultima vez até então que a vida da garota esteve em risco.
Não se sabe se por coincidência ou se o imperador já desconfiava de alguma coisa. Mas a primeira tentativa de matar a garota foi através de uma jarra de vinho envenenado que o próprio imperador acabou bebendo enquanto a visitava na hora do almoço.
Imediatamente ele começou a passar mal, mas obviamente aquilo não era suficiente para matá-lo.
Ele contou tudo para a garota e pediu que se deitasse na cama. Solicitou aos soldados na porta que chamassem seu curandeiro pessoal e foi assim que os três simularam a morte da prisioneira.
Os traidores acreditaram que tudo havia saído como planejado e isso deu tempo para que o imperador os encontrasse e eliminasse também.
No mais os dias se passaram como deveriam e a cada dia o amor e a paixão que tinham um pelo outro crescia mais e mais. As coisas mudaram entre eles depois que o imperador salvou a vida da garota e todo o resto parecia ainda mais diferente quando estavam juntos.
As coisas pareciam belas. Ela pareciam boas.
As coisas pareciam importantes...

- Bichisse!!! – disse o garoto, bem alto e interrompendo o velho. – Muita bichisse!
- Você já amou alguma vez? – Inquiriu o velho, um pouco sem paciência.
- Sim, sempre.
- Jura? – O velho pareceu meio surpreso e desconfiado. – Por que eu tenho a impressão de que vou me arrepender de perguntar? A quem você ama? Ou amou... Não sei...
- A única pessoa que realmente importa nesse mundo. Eu mesmo, é claro.

O velho se calou e suspirou. Ele realmente se arrependeu de ter perguntado.

- Que? – o garoto perguntou, sem entender a reação do companheiro.
- Continuando... – e o velho o ignorou.

Por fim eles se casaram e o mundo compartilhou a felicidade do casal.
Eles se amavam muito. Uma espécie de amor único e raro. Algo especial e diferente de tudo.
Principalmente pelo fato de que ele não podia morrer... E ela sim.
Então conforme o tempo continuou a passar isso foi se tornando cada vez mais notável.
E quanto mais notável, mais incomodo e mais injusto para ela.
Foi quando ela perguntou, enfim, qual era o segredo do imperador...

As coisas novamente mudaram a partir deste dia.

Moon Ghost

Escritor, designer, fotografo, musico, programador, ator, jogador, artista marcial e o que mais der na telha. Criador de mundos e alterador de realidades nas horas vagas.

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