- Que seja. E dai que o idiota do imperador contou seu segredo pra mulher?

- Você esqueceu que a principio ela odiava o imperador?

O espião se infiltrou entre os serviçais da corte e deu um jeito de se aproximar da imperatriz e ela, assim que viu a tatuagem no antebraço do homem soube quem era.

Talvez ela tenha sido ameaçada e sentiu medo, talvez senha sido enganada... Talvez, desde o começo, tudo não tivesse passado de teatro num plano muito bem elaborado. Um plano que levou anos para ser concluído.

Ninguém nunca soube o que o homem disse para a imperatriz, afinal. Mas ela não apenas o reconheceu como também ouviu o que ele tinha a dizer.

O ódio que inicialmente a mulher sentia pelo imperador não era desprovido de razão.

Eu disse que certa vez houve um mago que criou uma ordem para enfrentar o imperador. e que esta ordem foi destruída e seu líder foi morto.

Mas isso apenas resume de maneira bem simples o que o imperador fez para transforma-los em exemplos para que ninguém mais ousasse desafiar seus poderes.

Primeiro todos os nobres que faziam parte do grupo tiveram seus bens confiscados. Muitos tentaram fugir com suas famílias, mas o imperador foi mais rápido e eles acabaram caindo em armadilhas.

Os que tentaram lutar foram mortos imediatamente, alguns ate mesmo juntos de suas esposas e filhos. Isso talvez tenha sido a melhor saída, afinal, já que os que simplesmente se entregaram foram mortos do mesmo jeito, mas aos poucos.

Já aqueles que não tinham dinheiro ou terras foram presos ao longo do tempo.

A marca no antebraço, o simbolo do dragão decapitado, foi perseguida por todo o império durante anos e aqueles que eram capturados eram torturados ate revelarem onde estavam seus aliados ou morrerem no processo.

Amigos e parentes não foram poupados.

Então, quando tudo isso aconteceu, a imperatriz não era mais do que uma criança que certa noite acordou com seu pai a tirando da cama em pleno sono, pegando-a nos bracos e correndo para fora do barraco onde moravam. Eles correram pra dentro da floresta enquanto homens carregando tochas e espadas gritavam e os perseguiam.

- Fique aqui e não grite. Se eu não voltar ate o amanhecer, procure a vovó Nana. - disse o homem, se aproveitando de um momento de distancia entre ele e seus perseguidores para colocar a criança num buraco aos pês de uma grande arvore. - Você entendeu? Procure a vovó Nana.

A garota balançou a cabeça em sinal positivo.

- Provavelmente foi capturado e talvez o tal do espião tenha contado pra imperatriz o que o imperador fez com ele. - disse o garoto.

- Sim, talvez. - o velho replicou, sorrindo com os dentes que ainda tinha na boca. Esta feliz de ter envolvido o garoto em sua história. -  Mas e agora?

- Agora o que?

- Ela tinha de escolher, não é mesmo? De que lado ela ia ficar?

Ela tinha que escolher...

Mas o imperador também tinha seus espiões e, por mais que não tivesse descoberto de imediato o invasor em seu próprio castelo, não demorou ate ficar sabendo de certa movimentação estranha entre as pessoas de várias cidades. Haviam grupos se formando e se escondendo. Seus espiões falavam de planos, de líderes, de rebeliões e de pessoas que carregavam certa marca no antebraço.
Logo ele emitiu a ordem de prisão para um grupo em especifico e através de um dos capturados descobriu que estes homens conheciam seu segredo.
...E ironicamente não havia se passado mais do que duas semanas desde que ele havia revelado aquela informação a sua amada esposa.
Não preciso dizer como as coisas ficaram estranhas entre o casal a partir de então. Cada um com suas preocupações, dúvidas e questionamentos...
Principalmente, talvez, para a imperatriz que continuou sendo visitada pelo tal espião e a cada dia sentia-se mais pressionada. Mesmo que não tenha acontecido a principio, mas aos poucos ela provavelmente estava passando a acreditar que o homem que amava não era aquele que governava.
Uma vez que se permitiu deixar levar por esta ideia, acabou iniciando uma investigação sobre como chegar ao coração do imperador no centro do labirinto.
E é claro que o imperador, mesmo negando para si mesmo, não conseguia evitar desconfiar de sua esposa. Ele se perguntava: "Poderia ter sido ela quem revelou seu segredo?" e "Seria ela a pessoa que ele realmente pensava que era?".
Dessa forma ele tomou precauções para que a imperatriz fosse seguida mesmo dentro do castelo e foi assim que ficou sabendo sobre os encontros dela com o tal espião.
Foi a vez do imperador escolher... Mas por muito tempo ele escolheu não fazer nada.
Só que quanto mais tempo passava, mais a desconfiança corroía a ambos.
Aos poucos era como se estivessem voltando ao cenário antes de casarem... E isso continuou até o dia em que, esgotado,  o imperador ordenou que todos os envolvidos com os grupos secretos fossem presos.
Em todos os lugares os grupos foram atacados e assim que soube disso o espião apelou para a imperatriz em uma última conversa.

- Talvez você tenha razão, garoto. Talvez o espião tenha realmente contado para imperatriz o que houve com o pai dela e com todos os outros membros da ordem no dia, anos atrás, em que o imperador havia dado a mesma ordem que estava dando naquele momento.
- Por que diz isso?
- Por que foi nesse mesmo dia que ela fugiu do castelo e se dirigiu para o labirinto.
- Você está dizendo que o imperador sabia do espião, sabia o que ela estava fazendo e mesmo assim...?

Estou dizendo que a imperatriz teve todo o tempo do mundo para desenhar um mapa e foi com ele que galgou seu caminho para o labirinto e através dele. Estou dizendo que ela se dirigiu rumo ao local onde o coração do imperador estava escondido, mas que assim que ele percebeu a ausência de sua esposa, apenas ligou os pontos e foi sozinho correndo de pressa atrás dela.